sexta-feira, 20 de abril de 2012

Efeitos mutagénicos do álcool e do tabaco

O tabaco e o álcool são dois elementos que estão muito presentes no nosso quotidiano já há muitos anos, contudo continuam a gerar controvérsia em relação ao seu efeito. Desde sempre são apontados bons e maus aspetos, sendo que estes continuam a ter maior predominância. Neste sentido, têm sido promovidos inúmeros estudos que visam a descoberta dos efeitos do tabaco e do álcool nos indivíduos, ao longo dos anos.
Como alunos de um curso de ciências, decidimos, então, juntamente com a nossa professora de biologia, realizar uma atividade dentro deste mesmo âmbito. Esta consiste em analisar células do epitélio bucal de dois grupos de indivíduos, de forma a verificar-se a presença ou não de anomalias nucleares que podem ser provocadas por estes agentes. De entre uma faixa etária de 30 a 50 anos foram recolhidas amostras de 20 indivíduos controle, que não bebem nem fumam, e 20 indivíduos expostos, que bebem e fumam, de acordo com uma serie de outras indicações pertencentes a um formulário. Para cada individuo foi contado 1000 exemplares celulares em que é esperado identificar-se nos indivíduos expostos um maior e mais recorrente número de anomalias, entre as quais a cariólise, a carioréxis, a picnose, os micronúcleos, e ainda células binucleadas e trinucleadas.
Para compreendermos melhor o objetivo/finalidade do nosso projeto fomos estudar outros semelhantes. Após uma pesquisa e recolha de informação sobre diversos artigos encontrados, escolhemos os que achamos mais interessantes. Estes são:

   • (Artigo 1)  Efeito mutagénico do etanol em células da mucosa bucal – Neste trabalho é estudada a       frequência de micronúcleos em indivíduos dependentes de químicos com etanol

   • (Artigo 2)  Anomalias nucleares nas células epiteliais dos trabalhadores das fábricas de calcite – Este trabalho refere-se ao aparecimento de anomalias nucleares em indivíduos expostos à poeira de calcite e que são fumadores, tendo como base esfoliação de células bucais dos mesmos.

   • (Artigo 3) Consumo de Álcool e Cigarro aumenta a frequência de mutações do gene p53 em grandes células pulmonares.



Vamos agora aprofundar cada um destes artigos.

Fig1-Micro-escova
Artigo 1  -> Este trabalho tem como objetivo estudar a relação entre a frequência de micronúcleos com a exposição das células a agentes mutagénicos, em células esfoliadas da cavidade bucal de um grupo de 40 indivíduos não fumadores, dependentes químicos de etanol internados no Hospital Psiquiátrico Ana Nery, Salvador - Bahia.  Seguidamente, através da aplicação de um questionário a cada um dos indivíduos, foi quantificado o consumo semanal de etanol, seguido da recolha de células da lateral da língua e da mucosa jugal. Para tal, utilizou-se uma escova específica para esse género de recolhas(Micro-escova), que depois de passada pelos locais já referidos era agitada em soro fisiológico. Após a esfoliação o material é centrifugado a 1.500 rpm durante 10 minutos de modo a obter-se um precipitado com alta concentração de células esfoliadas. Estas foram fixadas em ácido acético e, posteriormente, transferidas para lâminas limpas. Após secarem durante 24 horas, essas foram submersas em solução de HCl por 30 minutos. Seguidamente, procedeu-se à coloração com a reação de Feulgen e a contra coloração com o "Fast Green". Por fim, as células foram desidratadas em etanol e clarificadas em xilol e montadas com resina e lamelas. O mesmo procedimento foi feito para 20 indivíduos que constituem o grupo controle, estes não fumam, bebem álcool nem são doentes psiquiátricos, escolhidos de uma comunidade religiosa de Salvador.
De seguida deu-se a contagem de células e ao mesmo tempo a avaliação dos seus núcleos, em que o observador não tinha conhecimento se aquela lamina pertencia ao grupo exposto ou de controle. No mínimo tinha de se contar 1000 células por individuo. Os critérios utilizados para a identificação de micronúcleos foram pré estabelecidos por Coutrymam. Desta feita, observou-se um aumento estatisticamente significativo da frequência de micronúcleos em células esfoliadas da língua no grupo de indivíduos expostos ao etanol em relação ao grupo controle (p < 0,01). A frequência de micronúcleos em células esfoliadas da mucosa jugal apresentou-se maior no grupo de indivíduos alcoólatras quando comparado ao grupo controle, porém não houve diferença estatisticamente. Este trabalho faz, também, referencia a Ziegler(1986),que num estudo epidemiológico, demonstrou que indivíduos alcoólicos apresentavam risco de cancro 6,4 vezes maior que indivíduos abstêmios de álcool. Em geral, a ação mutagénica do álcool ocorre em níveis de exposição superiores a 45 ml de etanol por dia. Nesta experiência, constatou-se que os indivíduos alcoólicos com ausência de neoplasia maligna oral tinham como menor consumo de etanol 34,7 ml/dia e o maior de 1.825 ml/dia, com exposição média de 25,5 anos. Após a análise das células verificou-se que a lateral da língua, descrita como o local mais prevalente para o cancro bucal, mostrou frequência elevada de células micronucleadas e de micronúcleos quando comparadas ás do grupo controle. Por outro lado, a mucosa jugal, , mostrou resultados bem menos expressivos. Esses resultados confirmam que a mucosa jugal é um sítio menos exposto à ação de agentes mutagénicos. Como, neste estudo, a colheita de células esfoliadas foi executada até 48 horas após a internação dos indivíduos num programa de desintoxicação para dependentes de álcool conclui-se que o consumo excessivo de etanol promove alterações efetivas em células da mucosa bucal, mesmo na ausência de exposição ao fumo. Tais alterações apresentam-se mais expressivas no bordo lateral de língua, um sítio mais exposto à ação do agente, quando comparado à mucosa jugal.


Artigo 2 -> No artigo publicado no site Scielo (2), o seu principal objeto de estudo foi o efeito mutagénico do pó da calcite, mas no entanto também foi avaliado o efeito do álcool e tabaco em conjunto com a calcite e os resultados são como se poderia prever: para além dos estragos provocados pelo mineral, o álcool e o tabaco só agravaram a situação, aumentando o número de células mutadas em comparação com as células somente expostas à calcite.

No  artigo (3), é-nos apresentado um estudo mais interessante que tenta relacionar o consumo do álcool e tabaco com a taxa de incidência de cancro no pulmão, mais precisamente, tenta relacionar o consumo de álcool e tabaco com mutações que ocorrem no anti oncogene p53. Como esperado, consumir tabaco leva a um maior número de mutações ocorridas no gene p53, logo, levando a um maior risco de apanhar cancros como o do pulmão (cancro estudado no artigo), também muito associado ao fumo. No entanto, o que este estudo revela é que, embora o tabaco seja extremamente mutagénico para as células e grande potenciador de mutações, o consumo de álcool juntamente com o consumo de tabaco aumenta substancialmente o número de mutações ocorridas no gene p53, aumentando também o risco de desenvolver cancro. Ora o consumo do álcool não está diretamente relacionado com o desenvolvimento no cancro do pulmão nem com outros cancros, mas com este estudo foi nos possível realçar o poder mutagénico do álcool combinado com outras substâncias mutagénicas como o tabaco.

Bibliografia